11 de outubro de 2013

Alegria roubada

As duas memórias mais vivas que eu tenho dentro de mim são o nascimento das minhas meninas, não existe momento que se compare ao nascimento de um filho, aquela emoção de ouvir o chorinho que mudou minha vida, ou mesmo a mágica de ouvir o choro delas desaparecer conforme se aproximavam de mim e ouviam minha voz.
Ouso dizer que mulher nenhuma sabe o que é amor verdadeiro antes de ter um filho, ali, no momento que nasce nosso filho somos apresentadas ao maior amor do mundo, que sobrepõe qualquer tipo de barreira e que vai superar qualquer coisa nessa vida.
É, elas são o maior amor que eu tenho, hoje não imagino minha vida sem elas, aliás, não sei como pude viver tanto tempo sem essas meninas, ouvir a voz da Yasmin me chamando a todo momento, me abraçando pq gosta do meu abraço, me beijando pq diz que sou cheirosa ... e a Carol, ahh quanta doçura em apenas 5kg, aquela risadinha maravilhosa, aqueles olhos observadores e o suspiro que ela dá quando beijo seu pescocinho.
São coisas pequenas assim que transformam meu dia-dia e me fazem enxergar que a maternidade é isso, é dar valor nessas coisas diárias e pequenas, que fazem a nossa vida ser mais colorida, é estreitar os laços com muito carinho, e prezar pelo carinho sempre, pq elas irão crescer e talvez um dia – que eu espero estar bem distante – não queiram mais o meu abraço, o meu colo, então eu vivo um dia de cada vez aproveitando o máximo que posso da minha maternidade.
Talvez, seja por isso que eu fique tão incomodada quando leio em diversos lugares o parto sendo endeusado ou endiabrado, pq pra mim o parto é um meio pro fim.

Na gravidez da Yasmin, com toda informação que tive optei pela cesárea.

Não fui pressionada por médicos, por familiares, amigos, marido, ninguém, eu decidi pela cesárea sozinha.
Queria minha filha em meus braços o quanto antes, queria pra ontem, não tive paciência de esperar, cheguei as 40 semanas e como nem sinal dela querer nascer, marquei uma cesárea totalmente eletiva e fui conhecer o grande amor da minha vida.

Se eu me arrependo de ter feito isso?

De jeito nenhum, se tivesse que voltar no tempo faria tudo igualzinho, foi perfeito pra mim, estava cercada por todos meus amados, Yasmin foi recebida com extrema alegria e amor, veio saudável e linda, o que mais eu poderia querer?
Mais nada, pq minha vida estava completa e eu me sentia plena como mãe.

E quando eu pensei que não havia mais espaço pro amor em meu coração, recebi a notícia que estava grávida da Carol.

A segunda gravidez me trouxe uma calma que eu desconhecia, justamente eu que sou a ansiedade em forma de gente me vi tranquila e serena como nunca estive antes.

Assim como na gestação da Yasmin eu procurei ler sobre tudo que poderia ser benéfico pra Carol, final, existem tantos estudos novos em diversas áreas sobre nascimento, parto, cuidados com o recém nascido, que eu quis aprender mais.

E após ler muito e me basear em leituras eu passei a querer um parto natural, não era aquela coisa “vou morrer se não tiver um parto natural”, mas era algo que eu queria passar pra ver qual era, se aguentasse a dor iria até o fim, caso contrário ou se necessário, faria uma cesárea sem problemas.

Embora eu seja muito saudável, minha saúde tem certas limitações, eu tenho uma hérnia umbilical gigante que salta e dói se eu faço qualquer tipo de esforço físico, e ano passado passei por uma cirurgia de grande porte, que demoraria cerca de 18 meses para cicatrizar totalmente, ou seja, o parto natural não era indicado pra mim.

Mas eu cismada queria pq queria um parto natural.

Os benefícios são tão grandes, pq privar minha filha de algo tão benéfico que é um parto natural?

Mudei muitas vezes de médico, e salvo engano, com 36 semanas passei pelo último (que é quem fez meu parto).

Fui sincera, disse que minha situação era a descrita acima, hérnia umbilical que doía até ao espirrar (sem exageros), recém operada de uma cirurgia de grande porte ... e que queria um parto natural pq li por infinitas horas na internet que o parto natural era o melhor pra minha filha.

Ele disse que se eu quisesse poderíamos fazer o seguinte, eu entraria em trabalho de parto e iria imediatamente para o hospital, pq minha hérnia gigante poderia estrangular e eu tinha que ser monitorada o tempo todo.
Nada de sorinho acelerador pq eu vinha de uma cesárea anterior, então o trabalho de parto teria que evoluir sozinho, e o parto evoluiria tranquilamente e ele estaria comigo, desde que no hospital.

As semanas se seguiram, e eu estava empolgada com a ideia de um parto natural, mas não descartei em momento nenhum a cesárea, afinal, vai que fosse necessário.

Não estava ansiosa, não estava nada, estava normal, eu Julia seguindo minha vida e aguardando o nascimento da minha caçula!

Com 39 semanas meu médico pediu uma ultrassom pra sabermos a posição que ela estava, pois com 36 semanas ela estava atravessada na minha barriga.

Quando levei o resultado meu médico disse que Carol estava com um déficit de desenvolvimento, estava abaixo do peso e minha barriga de 39 semanas tinha altura uterina de 32. Alguma coisa poderia estar errada.

Por precaução, pediu que eu fosse ao hospital fazer exame dia sim dia não pra acompanharmos como a Carol estava, já que ela se mexia bem pouco e o tamanho estava alterado.

E assim fui, tanto que passei o dia do meu aniversário (19/05) no hospital sendo monitorada. Eu fazia cardiotoco, mis um exame que eu não me recordo e ultrassom pra saber a situação da pequena.
Na ultrassom desse dia a médica ficou assustada com a quantidade de líquido que eu não tinha, o liquido estava baixo e a mobilidade da bebê comprometida.

O médico que me acompanhava aquele dia disse que segundo o cardiotoco eu estava com contrações leves, ligou para meu médico e passou a situação.

Meu médico disse que era pra eu ir ao consultório dele no dia seguinte (e não deu quase 12 horas de diferença entre o exame a consulta com ele).

Já no dia seguinte na consulta ao ver os exames ele foi bem enfático ao dizer que ela estava com restrição de crescimento e que a mobilidade dela estava comprometida devido a baixa de liquido.

Após essa conversa só deu tempo de levar as malas para o hospital e internar.

Eu estava feliz, muito feliz em finalmente conhecer minha menininha, mas meu coração se apertou no centro cirúrgico.

Pensei comigo “poxa vida, será que estou sendo enganada?” e deitada chorei.
Um choro solitário, sentido, um choro triste de impotência, pq eu coloquei na minha cabeça que queria passar por aquilo, afinal, quem não quer dar o melhor pro filho? Eu queria, enchem tanto a cabeça da gente que o parto natural é isso e aquilo, que é menos traumático ... poxa vida, minha filha sendo tirada a força de dentro de mim, que evento mais traumático, me senti uma bosta de mãe.
Eu deveria estar empoderada, ter o controle do meu corpo, dizer não pra esse sistema cesarista que todo mundo fala. 
E chorei sozinha.
Não foi um choro de soluçar, mas lembro que as lágrimas eram amargas.

O anestesista entrou e me viu quietinha, chorando e me perguntou o que estava acontecendo.
Tudo se resumiu em uma palavra: MEDO.

Em meio as lágrimas contei tudo que se passava na minha cabeça, o pq de estar ali, a restrição de crescimento, minha agonia.

E em toda minha gravidez o gesto dele foi o mais humano que alguem fez por mim durante toda gravidez, ele acariciou meu rosto e disse que eu deveria relaxar, ficar calma, e que os últimos instantes dela dentro de mim, independente da via de parto deveriam ser momentos felizes, que aquela tristeza toda não faria bem pra nós duas, e que o importante era ela vir com saúde.

Após isso me acalmei, fui anestesiada e minha princesa nasceu.

Sim, ele tinha razão, o importante seria ela vir com saúde, nada além disso.

E quando ouvi aquele chorinho gostoso de vida, as lágrimas correram de felicidade, pq como eu disse lá em cima, o chorinho da vida mudou a minha vida!

Só quem já esteve em um centro cirúrgico e ao invés de ouvir o chorinho que muda a vida, saiu de lá com os braços vazios e o coração despedaçado sabe a alegria que é viver esse momento seja ela por cesárea ou por parto natural.

Momentos antes dela nascer me lembrei do dia que estive em uma maternidade e saí de lá com os braços vazios e o coração em frangalhos pq meu sonho não tinha vida.
Me lembrar disso me deu alegria pra apreciar aquele momento tão especial, pq me desculpem, mas o triste não é ter um parto frustrado, triste é você entrar grávida e sair sem seu filho, é ver seu sonho ir embora sem poder fazer nada.

Eu quase tive a alegria do meu momento roubada, digo quase pq no ultimo minuto do segundo tempo me lembrei disso e me lembrei que tinha uma joia especial em casa me esperando, nascida da mesma maneira e que era muito amada, muito desejada, que é o amor da minha vida.

Minha alegria quase foi roubada pq agora dizem que só é boa mãe quem sente a dor do amor verdadeiro, que só é boa mãe quem pari naturalmente, e eu não sei em que momento eu me deixei levar por isso, mas ser mãe é muito mais que dar a luz, ser boa mãe é dar exemplo, carinho, ensinar bons valores, cuidar e mostrar o bom caminho, o parto é apenas o começo de tudo, ser mãe é uma jornada tão longa, tão solitária, que eu não sei como pude me deixar levar por isso.

Se eu tiver uma nova gestação, não vou ler nada, não quero saber de nada, quero fazer meu pré natal normalmente, mas não quero ler sobre benefícios disso ou daquilo, pq eu não quero sentir o que senti.

“Ah mas vc caiu em uma desnecessarea”, juro que pra quem me disser uma porcaria dessas direi que desnecessário é esse tipo de comentário.

Ao contrário do que possa parecer, sou muito bem resolvida com meus partos, não me arrependo de não ter tentado ir até o fim, afinal, se ele é medico e estudou quem sou eu pra achar que naquela situação sei mais que ele me baseando apenas em estudos do google?

Eu vejo muita gente dizendo que a cesárea foi banalizada, e que tudo que é indicação é desnecessarea, mas eu como mãe, jamais colocaria a vida das minhas filhas em risco por um capricho, por um achismo.

E eu quase tive meu momento de alegria roubado, mas não, quando me trouxeram aquela bebezinha minúscula a emoção foi a mesma, o choro emocionado foi o mesmo, só o amor que não, o amor se multiplicou por 10, por 100, por 1000 em questão de segundos, pq no fim das contas não me importaria se ela nascesse pelo buraquinho do meu nariz, o importante era ela estar bem e nos meus braços, o resto?

Ahh, o resto é resto e cada um sabe bem onde o sapato lhe aperta!!

3 comentários:

  1. Que bom que você escreveu esse post... Pensei que só eu me sentia oprimida por essa onda do 'maravilhoso parto normal' que invadiu a blogsfera. Tive duas cesáreas e quase me deixei entristecer por ter optado, em nome da minha saúde, por esse tipo de parto na minha segunda gravidez. Ainda bem que o chorinho mágico do meu meninão afastou essa sombra ainda na sala de operação.

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  2. Oi amiga,

    Me emocionei com o seu post.
    Incrível como não imaginamos o que as pessoas passam, e vc sabe todos os meus dramas como poucas, então, me surpreendi em ler tudo que li, a gente pense que só é com a gente que acontece certas coisas...
    E olha, que querido esse anestesista, sei que vc não acredita em Deus, mas ao meu ver, é um anjo que estava com vc!
    Por essas e por outras que eu concordo em genero numero e grau contigo, o parto é uma meio pro fim. Amor de mãe é incondicional e pronto, não tem relação com o parto, depois que temos eles no colo, nada mais importa.
    Te admiro amiga,
    obrigada por compartilhar tudo isso.
    Beijos em vc´s!!!

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  3. Júlia,
    Acho extremamente opressor esse "dogma" quase doentio que está assolando tantas e tantas mulheres hoje em dia: só é "mãe de verdade" quem tem parto natural: quem amamenta quinze anos; quem abomina fralda descartável; quem passa trinta horas por dia na cozinha... blá blá blá!
    O mundo ja é tão difícil pra tanto julgamento!!!
    Felipe nasceu por cesárea, amamentei oito meses, uso fralda descartável e lencinho umedecido, faço refeições saudáveis e equilibradas mas de vez em quando apelo pra Nestle sem peso na consciência, passo doze horas por dia fora de casa porque preciso - e quero! - trabalhar. E mesmo com "tudo" isso, sei que sou a melhor mãe que posso ser! Meu filho me ama e se desenvolve lindamente diante dos meus olhos. E tudo isso porque o melhor que faço por ele é dar muito amor, carinho, segurança, educação e alegria. Como você bem colocou, o parto é um caminho, longe de ser o "fim"! Especialmente para nós, que temos a benção de sair de uma sala de cirurgia com um bebê saudável nos braços (ja passei por uma curetagem e também sei o que é sair da sala "vazia"...).
    Nao sou contra parto normal, amamentação prolongada nem nada do gênero, pelo contrario! Mas, acima de tudo, sou a favor da LIBERDADE DE ESCOLHA! SEM JULGAMENTO!
    Que mais mulheres tenham a coragem de se expor e falar tudo isso que você falou! Porque é assim, com honestidade, informação e "mente aberta", que conseguiremos fugir desses padrões pré-estabelecidos que só massacram tantas e tantas mães! O melhor é sempre o que funciona para cada mulher, para cada familia!
    Beijo pra vc e suas meninas.

    http://nossomundocomfelipe.blogspot.com.br

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