6 de maio de 2013

Da insegurança materna.

Nem sei por onde começar esse post, mas vamos lá. 

Desde que Yasmin e eu deixamos de ser uma única pessoa, nos separamos apenas uma vez, em julho de 2012 quando fiz uma cirurgia e fui obrigada a ficar internada cinco dias, de segunda a tarde a sexta de manhã, e sem poder vê-la, eu sabia dela apenas o que me falavam pq infelizmente ela não pôde me visitar (até pq hospital não é ambiente pra criança que está saudável!). 

Uma das recordações mais fortes que tenho desse dia foi que ela não poderia me acompanhar até o quarto da internação, quem me levou pro hospital foram meus pais pq o Pablo estava trabalhando, arrumei minha mala e seguimos nós quatro para o hospital e tive que me despedir dela na recepção, somente minha mãe seguiria comigo até o quarto, meu pai e ela aguardariam minha mãe voltar, não podiam seguir comigo. 

A cirurgia era de alto risco, então eu não sabia se os veria novamente, e a incerteza do futuro naquele momento me deu desespero, poderia ser a última vez que veria minha filha, meus pais, poderia ter sido a última manhã que preparei café para o meu marido e com um beijo desejei à ele um bom trabalho, poderia ter sido a última vez que vi minha irmã ... nunca tive medo da morte, mas sempre que paro pra pensar que posso ir antes daqueles que amo, e deixa-los desamparados, me dá uma angústia, um nó na garganta ... 

Peguei minha Pipoquinha no colo, senti seu cheirinho, abracei forte, apertei, pedi pra que ela se comportasse na minha ausência, beijei o pescocinho mais gostoso do mundo e a entreguei para o meu pai, com o coração apertado a entreguei e não olhei pra trás, pq sabia que se olhasse para trás desistiria da cirurgia. 
Segui em silêncio com a minha mãe até o quarto, ela me deu um abraço, disse que daria tudo certo, seus olhos estavam marejados de lágrimas, e assim como eu fiz com a Yasmin, ela me deu as costas e foi embora sem olhar pra trás, pq tenho certeza que se tivesse olhado e me visto com medo, teria pego minha mala e me levado de volta pra casa. 

A cirurgia seria as 7 da manhã e eu não consegui dormir nada, virei a noite acordada, escrevi no diário que mantenho pra ela, assisti a primeira temporada de um seriado novo que levei, passeei pelos corredores ... fiz tudo, menos dormir. Meu pensamento era um só "o que vai ser da minha filha e da minha família se eu morrer?". 

Uma das últimas lembranças que tenho de antes de ser sedada é ter falado pro meu cirurgião "O senhor tem que me trazer de volta pq eu tenho uma família linda, uma filha maravilhosa, um marido fora do sério e uma cachorrinha que dependem de mim!", ele sorriu e disse que eu voltaria sim, e voltaria bem melhor. Dito e feito. 

Fui internada na segunda, operada na terça as 7:30, e passei a terça feira na UTI, e segundo o Pablo, estava tão drogada que estava até vesga, me lembro de pouquíssimas coisas da terça feira. Quarta feira tomei banho na UTI mesmo e fui para o meu quarto receber as visitas. Quinta feira estava saracoteando pelos corredores pra ajudar a circulação e falando pelos cotovelos. Sexta feira de manhã fui embora pra casa. 

Nesse período todo, quem ficou com a Yasmin pra mim foram meus pais, minha irmã e meu marido, na época ela tinha 1 ano e 5 meses, e ficou muito bem. 
Decidi que só queria saber notícias dela, não queria falar com ela por telefone pra evitar desgaste emocional da minha parte, e pra não deixa-la agitada ou me chamando. Foi triste, sofrido e dolorido pra mim, mas deu certo, ela ficou muito bem. 

Sexta feira eu estava eufórica em voltar pra casa, queria abraça-la, sentir seu cheirinho, brincar com ela, enfim, queria minha vida de volta. 
Cheguei em casa as 8:30 da manhã. Ela dormia, mas assim que ouviu minha voz acordou. Ficou em pé no berço, pegou a mamadeira e disse "momóin!" e estendeu os braços para que eu a pegasse. 
Como não poderia fazer esforço nenhum, sentei na cama e o Pablo a colocou sentada no meu colo, ela me abraçou, começou a tomar a mamadeira e ficamos ali, abraçadas por um bom tempo naquele momento de reencontro que era só nosso e de mais ninguém. 

Aquela foi a maior recepção do mundo, senti no abraço e pelo olhar que ela sentiu minha falta, e se sentiu minha falta é pq venho desempenhando be meu papel de mãe. 

Aí vem a pergunta, e o que essa história toda tem a ver?

Tem a ver que esse mês nasce o Marshmallow, e eu terei que deixá-la pela segunda vez e me dói tanto o coração só de pensar. 

Dessa vez retorno do hospital com um bebê lindo, saudável, fofinho, ela poderá me visitar (pq é a única exceção pra qual o hospital deixa crianças fazerem visitas), mas o coração não deixa de ficar apertado em saber que ficarei longe dela por algum tempo. 

Lá poderei me dedicar exclusivamente ao Marshmallow, mas sem a presença dela a todo momento parece que alguma coisa está faltando, parece não, está faltando, está faltando ela comigo o tempo todo, me chamando a cada dois segundos, pedindo pra eu sentar ao lado dela pra ver desenhos, falando que quer mamar, que quer sair, fazendo bagunça pra eu arrumar ... 

Sei que chega a ser egoísmo pensar assim, afinal, o bebê vai precisar muito de mim nesse início, aliás, no início o bebê só precisa da mãe, mas a sensação que tenho é que estou traindo a Yasmin, é algo tão estranho que nem tem como definir. 

Se eu amo o Marshmallow? Demais.
Nunca vi o rostinho, não sei se é menina ou menino, não senti seu cheirinho, não o segurei nos braços ainda, mas sim, ele já é um bebê extremamente amado e desejado por nós. 
Não é diferença entre filhos, até pq amor de mãe não tem como ser dividido, é algo tão mágico que só pode  ser acrescido, só cresce, não subtrai, não divide, só cresce e se multiplica. 

Mas me sinto péssima em deixar a Yasmin aqui novamente, pq hoje sim ela sente minha falta, não pode me perder de vista, chora se estou longe ... 

No fim das contas sei que ela vai ficar muito bem com o pai, com a tia, com os avós, e até com uma vizinha querida que a ama muito e ela ama muito, eu sei que vai dar tudo certo, mas descobri que além da minha tendência pro drama a la Maria del Bairro eu dependo muito mais dela do que ela de mim. 

E agora que o grande dia se aproxima, o negócio é enfiar toda angústia e sentimento esquisito num saquinho e jogar na lixeira no caminho do hospital pq obrigatoriamente as coisas terão que se encaixar e dar certo, não é uma questão de escolha, tem que dar certo ou tem que dar certo, mas assim como o nascimento dela me trouxe um friozinho na barriga, eu posso afirmar que o nascimento do Marshmallow tá trazendo um friozão!

Enfim, vou esperar pra ver no que dá (e que dê certo!!). 

Beijos 


7 comentários:

  1. Eita que cabeca de mae eh um troco complicado, ne?

    NAo sei bem como eh com o segundo filho, mas entendo o q vc diz desse sentimento de "traicao". Eu so fiquei longe da Clarice essa 1 semana q tive q ir ao Brasil a trabalho e posso falar? Foi mto mais dificil pra mim q pra ela! Fatao que somos mto mais dependentes deles q eles de nos...

    Vai dar td certo, Juju!

    Beijao em vcs!

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  2. Sei exatamente o que vc está sentindo, tb estou esperando outro bebê e já fico com o coração apertado só de pensar em ficar distante da Sophia, nós nunca nos separamos por mais de duas horas. Com o João eu não me preocupo pq ele já tem 15 anos, é super independente e pode ir me visitar no hospital, mas só de pensar em ficar distante do meu toquinho de gente já me aperta o coração.

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  3. Ahhhhh, chorei, tá, não é certo você fazer um post assim, tão lindo e que me faz recordar de momentos tão intensos na minha vida, logo qndo eu estou de TPM!
    Qndo a Ciça nasceu a Maju ficou com minha mãe, na casa da vovó, foi a maior festa pra ela, ela me visitava 1 vez ao dia, ficava algumas horas, mas me dediquei mto mais a Ciça naquele momento. Me senti mto mal po "deixar a Maju de lado" mas levei a maior bronca do marido e da minha mãe, afinal aquele momento era sim da Ciça e meu, e a Maju não estava sendo excluida ou nada assim, mas sofri mto, acho que sempre sofrerei com medo de fazer diferença entre elas, mas assim como a Maju aprende aos poucos a lidar com a chegada da irmã eu tbm aprendo todos os dias a ser mãe de duas e a dar amor às duas sem medir, somente sentindo.
    Qndo a Ciça nasceu foi a primeira vez que dormi 1 noite longe da Maria, isso sim foi dificil, imaginar ela dormindo longe de mim...até hoje, por mim as duas dormiriam sempre juntinho comigo, mas elas são garotas mto mais maduras que a mãe e preferem dormir cada uma na sua cama!

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  4. Ju, me coloquei o tempo inteiro no seu lugar e quanto mais eu lia mais meu coração ficava apertado.

    Realmente, nós é que somos dependentes deles e não o contrário. Imagino a sua angústia e a sua dor, porque né doi sim uma situação dessas!

    Ai amiga, força ai! Sem mais que to querend chorar...

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  5. Que dias hein?! Que Jesus te proteja, e proteja a Yasmim e o Marshmallow... É sempre assim, os mais velhos dependem dos mais novos, dependência dos filhos! Força, Jesus está com vocês.

    Beijos
    http://irmacorujando.blogspot.com.br/

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  6. Nossa minha amiga, que barra vc passou, graças a Deus tudo deu certo!
    Sobre o parto, acho que toda mãe de segunda viagem passa exatamente por isso, posso te dizer que comigo foi a mesma coisa, a mesma aflição e o mesmo sentimento meio que de culpa pelo bebêzinho que vai chegar.
    Precisando conversar minha flor, sabe que pode me chamar!
    Beijos

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  7. Chorei o seu post inteiro. Nunca fiquei sem meu pequeno nem um dia e só de pensar me dá um nó na garganta.
    Bjks

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